domingo, 21 de agosto de 2011

O medo e o bêbado

Definir medo
É tão subjetivo
quanto definir liberdade
É mais que um verbete
Zigezagueia como o ébrio
na locução de suas palavras
já na alta madrugada
Assim como o bêbado,
o medo
Baila entre predicado,
substantivo, objeto
E o é,
quase tudo ao mesmo tempo
quando sai da oração e é experimentando
Mas acima de tudo,
o medo
Delineia o sentimento
sentido
Momento vivido
Sentimentos transcendem as regras
E criam novos contornos
Outros sentidos
Tal qual a visão do entorpecido
vendo a lua ceder lugar a alvorada
Assim como a aquarela
Invadindo o branco
Roubando toda sua alvura
Misturando seus pontos de cores
Surgindo novos tons
Deixando de ser aquarela

domingo, 17 de julho de 2011

Um dia todo

O sol até brilha, em um fio de luz que briga por uma fresta de sua cortina na janela do quarto.Mas não me anima a me desenroscar do seu corpo, soltar seu pescoço ou não procurar seus lábios. Não me anima a idéia de tirar nossos corpos debaixo do pesado edredom para sentir o frio vento dessa estação.
Não me empolga em levantar da cama e buscar mais uma garrafa de água nem sua coca cola no mercado, por mais que nossas gargantas peçam, insistindo em trazer a memória momentos da noite anterior.
As horas passam no relógio digital do celular, e a ausência de tic tacs em sua casa, me privam da tortura desse barulho que me faz sair reclamando cedo disposta a enfrentar a vida.
Entre um cigarro e outro permitimos aos nossos corpos descobrir novas formas de enlaçamento. Mais um cochilo, uma troca de afagos, fios de cabelo que se conversam enquanto nossos lábios exploram nossos ombros, pescoço, barbas, membros e todo o restante que se coloca ao apreço.
Muitas vezes a claridade se despede sem se fazer notar, assim como não se intimidou ao chegar pela manhã, com muito menos cerimônias se vai. É a nossa testemunha mais discreta e muda, tão silenciosa quanto a forma que nossos olhos se penetram e conduz nossos corpos para baixo do edredom novamente.

sábado, 18 de junho de 2011

Na espera do inusitado

Nem sempre esperar algo novo, ou diferente seja apenas o desconhecido, o que nunca aconteceu, em lugares ou pessoas nunca vistas. Afinal, o que é novo mesmo? O que não é reinventado, copiado fielmente ou simplesmente revivido. Como um toque tocado em determinado ponto desse enorme órgão chamado pele, um beijo e seus significados, um "chero", um sorriso, um abrigo.
Essas ações e outras tantas que reproduzimos mecanicamente ao longo da gostosa e perigosa aventura do viver, não passam de atos, gestos, nominados pela necessidade que a humanidade sabiamente desenvolveu de se comunicar e codificar seu conhecimento, suas experiências e significados. A palavra não surge antes da ação, mas o significado, a atribuição valorativa àquele gesto traduzimos em palavras. Talvez uma evolução da espécie humana, uma tentativa de expressar o que se vê ou sente, mas que quando trazida para o âmbito privado, essas tais, inventadas para traduzir o que se sente, fogem da boca e travam na garganta,tornando o sentimento intraduzível. Como a imensidão do mar que não se descreve ou a tesoura cinza em minhas mãos que ia e voltava para o sofá quando tive que te olhar.
Na busca pelo novo, o sair do óbvio, do trivial, do cinza da folha de jornal, dei muitas voltas e conheci muitos novos e colos, amigos, curiosos, ingratos, alegres, amáveis, desafiadores, medrosos, sedutores, quentes, conservadores ou apenas colos, que se senta ou deita, como bancos, cadeiras, sofás, poltronas, redes, almofadas ou travesseiros que se recostam a cabeça mas não se deita, não se descansa, não se dorme.
Se me desafiares agora e perguntar o que seria esse novo, eu vagaria em uma ciranda de palavras e provavelmente não lhe diria nada. Não é o sol de inverno que todo dia vem no mesmo horário, nem as piadas que se repetem, ou até mesmo o fato de percorrermos as mesmas ruas em trajetos que não se cruzam que me incomodam, nada disso é relevante.
Acho que a palavra inusitado traduziria melhor esse momento, penso que inusitado seria me apaixonar por alguém que não fosse você, ou que se eu me descobrir apaixonada por você,que você não seja você. Talvez seja esperar o desconhecido, apresentado por um velho conhecido.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Para os momentos da vida e meus afetos

Terezinha
O primeiro me chegou
Como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia
Trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio
Me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada
Que tocou meu coração
Mas não me negava nada
E, assustada, eu disse não

O segundo me chegou
Como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar
Indagou o meu passado
E cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta
Me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada
Que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse não

O terceiro me chegou
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada
Também nada perguntou
Mal sei como ele se chama
Mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Para as 4 flores da Nothmann

Meninas há muito tempo penso em falar coisas a vocês sobre vocês, sobre mim, ou sobre nós.
Viver com vocês me faz me sentir eu, vocês ou as vezes nós. Aprendi muito convivendo com vocês sobre mim.
Acho que somos maravilhosas,únicas, fantásticas, fortes, doces, delicadas, manhosas, conflituosas, meigas, românticas, imaturas e sonhadoras. Quando lembro de nós, muitos retratos que captei em nossos olhares me vêm na memória.
Dentre as coisas que descobri sobre mim com vocês é que demonstro pouco meu afeto, por isso esse e-mail, tenho um grande carinho por todas vocês e brigaria feito uma leoa por cada uma de vocês. Descobri também que nem sempre quando damos amor receberemos o troco e isso nos frustas, porque somos moldadas para dar e receber mesmo quando não percebemos essa lógica.
Descobri também que falar sobre coisas me interessa mais do que falar sobre pessoas, e por um tempo acabei tratando coisas e pessoas da mesma forma, vocês me fazem resgatar a sensibilidade do que são pessoas, com seus conflitos que são iguais ao meus, mas tratei os meus como coisas.
Um dia achei que não era bem quista por vocês e fui buscar onde seria querida, e descobri que nos outros lugares sou tão bem quista quanto por vocês, então entendi que apenas somos diferentes.
Todas essas reflexões e constantes buscas me fizeram entender que convivermos juntas nos fez muito conhecedoras de nós mesmas, mesmo ouvindo menos cada uma de vocês, as conheço muito bem por me conhecer, pois me conhecer me fez entender os prazeres e alegrias de ser mulher.

Como se todos os dias fossem domingos de sol

Hoje ao olhar meu facebook, feliz por ser segunda feira e eu não ter ido trabalhar um grande amigo, companheiro de muitas manhãs de inverno de vagabundagem no meu apartamento frio posta a seguinte frase: "manhã de segunda-feira e frio não combinam. dois fatores que desestimulam a vida de todas as pessoas.". Olhei um outro post que dizia que em Sampa fazia 12°,imediatamente não tive dúvidas em responder que se essa manhã começasse com o sexo matinal com certeza o resultado da combinação acima seria diferente. Ele concordou e acho que isso faria toda a diferença, acordar pela manhã e fazer sexo é como se todos os dias fossem domingos de sol.
A minha manhã não começou muito melhor porque saí da cama mais tarde, fiz o meu ritual de solidão cotidiano, já fumei uns 4 cigarros, li alguns blogs e ouvi algumas músicas que eu mesma escolhi e compartilhei algumas opiniões na rede. Mas aí pensei, quantos dias da nossa vida, mesmo quando moramos com alguém fazemos sexo matinal? ou quantas vezes fazemos sexo mesmo? E refletindo mais um pouco pensei se não seria só o fato de ser sozinho um problema, não só o sexo. E pensando mais um pouco também pensei se ter alguém sempre é tão necessário para a vida, afinal, a nossa solidão é tão aconchegante e companheira. A solidão é tão companheira porque mesmo invisível, sabemos que estamos com ela, pois estar com ela é na verdade estar só conosco, e estar só é poder ter suas manias, vontades, pensamentos e desejos velados por apenas uma única testemunha que é a muda solidão.
Transformamos a solidão em uma personagem, a ponto de acharmos que temos um testemunha de nossos atos, quando na verdade ela só está ali para nos colocar de frente com nós mesmos.
Então independente de acordar mais cedo ou mais tarde no inverno, estar sozinha ou não, fumar meu cigarros sagrado da manhã, ou escolher a música que vou ouvir , quero que as minhas manhãs sejam como domingos de sol, e não me importa se a primeira música que vou ouvir será o funk do menino mal educado que resolveu usar o celular alto no metrô, nada disso me interessa. O que importa mesmo é ver o sol no céu que não está, como uma criança que acorda todos os dias cedo na praia para saber se fará sol, por mais que esteja frio, essa criança esperará feliz e impacientemente pelo sol a cada manhã, assim como esperamos por coisas boas todos os dias.
Então me pergunto, porque quando crescemos é tão diferente? A diferença seria porque não vai mais aparecer nenhum adulto para nos levar a praia? É porque não podemos mais espernear e botar a culpa no adulto e dizer que ele que não quer ir a praia? A a praia está aí, assim como a vida, mas agora podemos ir por nós mesmos. Isso é o díficil.

Saindo debaixo da cama

Bem como primeira postagem gostaria de dizer como cheguei até aqui. Álias, achei que chegaria de um jeito, mas cheguei de outro. Resolvi fazer um blog porque passei meu dia facebookiando e percebi que minhas postagens e discussões já davam textinhos, segundo porque ás vezes quero escrever e dá uma baita preguiça quando não há esse mecânismo de diário, sim diário por ser cotidiano, ou "diário" de menina porque abandonei o meu quando achei que já era uma mulher. Que de mulher, grande, assim como imaginamos, ficou só na vontade, mas o orgulho não permitiu voltar a fazer os corações de canetas coloridas ou guardar os papéis de bala junto com as fotos roubadas em um clips do dia X.
Observando bem esse negócio de blog, é muito novo do velho, acho que por isso me identifico tanto. Nos meus tempos de menina, um "diário" era pra escrever sobre o que fiz no dia, mas também o que pensava, descobria, um poema, uma música, um desenho, um filme, uma foto, mas era escondido, compartilhado apenas com as amigas e devidamente guardado embaixo da cama ou na mochila, com cadeado, que mais tarde vim descobrir que se abriam com grampos. Ás vezes até compartilhava minhas idéias com alguns amigos, mas não virava um megafone para o mundo.
Percebo que a internet é tudo isso,talvez o grampo que abria o cadeado, talvez a vontade de falar com mais gente, talvez a vontade de continuar fazendo corações de caneta colorida, marcar fotos, mas com muito mais velocidade. Quanto ao "diário" é mais divertido, porque dá pra decorar o diário com muito mais tecnologia, mas também é me mostrar ao mundo desconhecido, independente de dizer dos meus acontecimentos pessoais, a escrita é capaz de traduzir nossos sentimentos, momentos e de repente todo mundo pode saber.No fundo isso dá um baita medo.
Mas, enfrentar os medos também é crescer, ou pelo menos tentar e descobrir outros novos. Mas acho que pelo menos um eu já não tenho, que é de descobrirem meu diário embaixo da cama.