sábado, 18 de junho de 2011

Na espera do inusitado

Nem sempre esperar algo novo, ou diferente seja apenas o desconhecido, o que nunca aconteceu, em lugares ou pessoas nunca vistas. Afinal, o que é novo mesmo? O que não é reinventado, copiado fielmente ou simplesmente revivido. Como um toque tocado em determinado ponto desse enorme órgão chamado pele, um beijo e seus significados, um "chero", um sorriso, um abrigo.
Essas ações e outras tantas que reproduzimos mecanicamente ao longo da gostosa e perigosa aventura do viver, não passam de atos, gestos, nominados pela necessidade que a humanidade sabiamente desenvolveu de se comunicar e codificar seu conhecimento, suas experiências e significados. A palavra não surge antes da ação, mas o significado, a atribuição valorativa àquele gesto traduzimos em palavras. Talvez uma evolução da espécie humana, uma tentativa de expressar o que se vê ou sente, mas que quando trazida para o âmbito privado, essas tais, inventadas para traduzir o que se sente, fogem da boca e travam na garganta,tornando o sentimento intraduzível. Como a imensidão do mar que não se descreve ou a tesoura cinza em minhas mãos que ia e voltava para o sofá quando tive que te olhar.
Na busca pelo novo, o sair do óbvio, do trivial, do cinza da folha de jornal, dei muitas voltas e conheci muitos novos e colos, amigos, curiosos, ingratos, alegres, amáveis, desafiadores, medrosos, sedutores, quentes, conservadores ou apenas colos, que se senta ou deita, como bancos, cadeiras, sofás, poltronas, redes, almofadas ou travesseiros que se recostam a cabeça mas não se deita, não se descansa, não se dorme.
Se me desafiares agora e perguntar o que seria esse novo, eu vagaria em uma ciranda de palavras e provavelmente não lhe diria nada. Não é o sol de inverno que todo dia vem no mesmo horário, nem as piadas que se repetem, ou até mesmo o fato de percorrermos as mesmas ruas em trajetos que não se cruzam que me incomodam, nada disso é relevante.
Acho que a palavra inusitado traduziria melhor esse momento, penso que inusitado seria me apaixonar por alguém que não fosse você, ou que se eu me descobrir apaixonada por você,que você não seja você. Talvez seja esperar o desconhecido, apresentado por um velho conhecido.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Para os momentos da vida e meus afetos

Terezinha
O primeiro me chegou
Como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia
Trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio
Me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada
Que tocou meu coração
Mas não me negava nada
E, assustada, eu disse não

O segundo me chegou
Como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar
Indagou o meu passado
E cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta
Me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada
Que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse não

O terceiro me chegou
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada
Também nada perguntou
Mal sei como ele se chama
Mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração