O Movimento Passe Livre preza por apresentar o projeto de lei da tarifa zero
por iniciativa popular, a princípio eu não compreendia o porquê dessa “utopia”
dentro da minha percepção conservadora.
Observando a movimentação da última semana consegui abrir meus ouvidos e olhos
para compreender essa “utopia”. A tarifa zero mexe com o bolso de quem tem
poder econômico para influenciar diretamente nas decisões políticas de nossa câmara
municipal, para fazer frente a essa parcela confortavelmente instalada no poder
político de nossa cidade, só existe uma alternativa, a pressão popular, apenas
o povo nas ruas é capaz de impulsionar a aprovação de um projeto que contraria
os interesses da elite.
As
primeiras manifestações foram com um número menor de pessoas predominantemente
estudantes de classe média, mas o poder público deu um tiro no pé, ao acionar
suas forças repressoras para violentar a população. Entenda-se por força
repressora, a POLÍCIA, sim o porrete que garante a ordem das elites para
governar o povo. Assim, o subestimado movimento ganhou forças e apoio da
população que até então não dava ouvidos aos meninos, ou de alguns outros
milhares como eu, que acreditava na causa, mas já tinha abandonado os sonhos.
As forças conservadoras, que apenas cochilam no Brasil, acionaram seu divulgador
ideológico midiático e completaram a fórmula levando uma massa despolitizada
para as ruas.
Essa
movimentação propiciou uma semana de intensos debates políticos, alguns com
medo dos jovens perdidos que se incorporaram nas manifestações com pautas
incoerentes, outros apavorados com a mídia começaram a culpar o movimento por
ser horizontal e não ter lideranças, e o partido da mídia tentou reconduzir o
movimento com suas pautas. Os movimentos sociais por sua vez, já espertos com
outros golpes, trataram de se reposicionar para pressionar o prefeito e pararam
de criticar os “anarquistas” do passe livre e o jeito que se organizam.
O prefeito
vacilou, não quis recuar do aumento e ameaçou colocar na conta da gasolina o
possível recuo. O governador então, nem disposição ao diálogo demonstrou.
Restou à população sair às ruas do seu jeito mesmo, com cerca de 150 mil pessoas em plena segunda feira útil, para dizer que não aceitava ser
calada e muito menos ignorada. Dois dias de grande pressão popular, desgaste de
imagem pública, instauração do movimento nacionalmente e ameaças à Copa foram o
suficiente para a revogação dos aumentos. No entanto, o discurso sobre a
redução das tarifas não veio acompanhado dos pedidos de mudança sugeridos pela
população, ao contrário veio velado de ameaças à população. Ameaças de corte em
outros investimentos.
De fato
existe uma conta que não se equaliza no estado burguês, pois existe uma
parcela, sendo essa a maior, que é destinada ao lucro das empresas prestadoras
de serviços ao estado. Tanto prefeito como governador foram claros ao dizer que
precisariam rever os outros investimentos públicos, mas em nenhum momento
cogitaram diminuir o lucro dos déspotas do estado que os elegem.
Por hora,
comemoraremos a batalha vencida, mas não podemos deixar de notar que esses
governantes, tanto Haddad, quanto Alckmin estão comprometidos em manter o
status quo do empresariado e atuarão para apagar os incêndios e retomarem a ordem,
ora de forma violenta, ora como concedentes de benesses. Mas não nos enganemos,
cada centímetro de direito conquistado se dá nas ruas com pressão popular.
Inclusive com aqueles que se travestem de esquerda.